O que é endometriose e quais mulheres estão mais suscetíveis à doença?


A endometriose é uma doença benigna, que pode ter evolução crônica e progressiva, caracterizada pela presença de células do endométrio (camada interna do útero) fora do útero, associado a um processo inflamatório. Estas células endometriais podem se implantar superficialmente na cavidade abdominal, nos ovários fazendo cistos com endometriose ou podem se implantar profundamente, invadindo por exemplo, intestino e/ou bexiga.

A endometriose não escolhe idade. Pode acometer mulheres a partir da primeira menstruação e até mesmo após a menopausa. Geralmente, o diagnóstico acontece quando a paciente tem em torno dos 30 anos.

Estima-se que 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva possam ser portadoras de endometriose. É a principal causa de dor e de infertilidade feminina.

As mulheres mais suscetíveis à doença parecem ser aquelas que tem história familiar da doença, em geral são mais ansiosas, e tem uma atividade profissional intensa, que mesmo com dor, continuam com suas rotinas, o que fez com que a endometriose seja chamada de doença da mulher moderna.

Apesar da sua causa exata ainda não ser conhecida, sabemos de sua associação com a produção hormonal dos ovários, e por isso, quanto mais cedo a mulher menstruar e mais tarde ela entrar na menopausa, maior será o período em que ela ficará exposta à doença.

Quais sintomas podem indicar a endometriose e quando a mulher deve procurar um especialista?
Temos 6 Ds que definem a endometriose, que são sinais de alerta para se investigar endometriose: Dor na menstruação, Dor fora da menstruação, Dor na relação sexual, Dor para evacuar ou Dor para urinar durante o período menstrual, e Dificuldade para engravidar.

A dor tanto no período menstrual como fora dele, que atrapalhe as atividades diárias da mulher não pode ser considerada normal, principalmente se ela apresenta uma piora progressiva com o passar do tempo.
A dor na relação sexual, principalmente quando o pênis atinge o fundo da vagina, atinge cerca de 90% das pacientes com endometriose, e ela está frequentemente associada a infertilidade.

Por conta da dor durante a relação sexual, a mulher desenvolve uma memória de dor e gradativamente perde a libido, a lubrificação e não relaxa a musculatura pélvica. A falta de libido, lubrificação e relaxamento, piora a dor. E a falta de relaxamento da musculatura pélvica causa a dor miofascial, deixando esta região ainda mais sensível, piorando a dor nas relações sexuais, formando um ciclo vicioso.

De que forma o diagnóstico precoce pode diminuir impacto da endometriose na qualidade de vida e profissional?
Se a doença for detectada logo no início, o tratamento poderá ser instituído precocemente, aumentando a efetividade de alívio dos sintomas. Em geral o diagnóstico demora em torno de 7 anos para ser feito, seja porque a paciente não procura o médico acreditando ser natural ter cólicas ou porque o médico não faz o diagnóstico. Daí a importância da divulgação das informações para que a paciente procure assistência médica especializada.

A endometriose pode ter impacto significativo na vida das mulheres e a demora do diagnóstico pode evoluir para um quadro de dor crônica, comprometimento dos intestinos e vias urinárias e, em algumas pacientes, infertilidade, afetando o bem-estar físico e emocional.

Com o acompanhamento correto, é possível tornar os picos de dor bem menos intensos, prevenir sequelas e permitir um tratamento que pode garantir o controle da endometriose e a qualidade de vida.

É importante não menosprezar sintomas, como menstruações penosas ou se a dor durar além do período menstrual e estiver impedindo as atividades diárias. Sentir dor não é normal.

A informação é a principal ferramenta para o diagnóstico precoce da endometriose.

Existe algum tipo de prevenção primária para endometriose?

Infelizmente a medicina ainda não descobriu a causa exata da endometriose e, dessa forma, também não é possível dizer o que você pode fazer para preveni-la.

A conscientização aprimorada, seguida de diagnóstico e tratamento precoces, pode retardar ou interromper a progressão natural da doença e reduzir a carga de longo prazo de seus sintomas, incluindo possivelmente o risco de sensibilização da dor no sistema nervoso central, mas atualmente não há cura.

Quais são as consequências da endometriose não tratada?

O acompanhamento da endometriose depende do estágio da doença em que a mulher se encontra, onde ela se desenvolve e os tipos de sintomas que apresenta. Cada quadro requer uma atenção e um tipo de acompanhamento médico específicos. A falta de tratamento pode permitir que a doença evolua, invadindo estruturas nobres, como o ureter, a bexiga, o intestino, e até o diafragma, criando um processo inflamatório importante principalmente nos períodos menstruais, podendo causar por exemplo uma hidronefrose (dilatação renal que se não tratada rapidamente pode evoluir para a perda do rim), obstrução intestinal que exige cirurgia imediata, ou até mesmo um aumento no risco de infertilidade.

Na sua opinião, qual a importância da OMS ter reconhecido recentemente a endometriose como um problema de saúde pública?

A endometriose tem implicações sociais, de saúde pública e econômicas significativas. Ela pode diminuir a qualidade de vida da mulher devido à dor intensa, fadiga, depressão, ansiedade e infertilidade, além de causar absenteísmo ao trabalho ou diminuir sua força de trabalho.

Ainda o sexo doloroso devido à endometriose pode levar a problemas conjugais, destruindo famílias. São, pelo menos, 8 milhões de brasileiras e cerca de 200 milhões de mulheres no mundo inteiro sofrendo com a endometriose diariamente.

Ela ser reconhecida pela OMS como um problema de saúde pública, significa que é necessário a criação de políticas públicas voltadas para o combate da doença, seja através de campanhas de informação locais, nacionais e internacionais para educar o público e os profissionais de saúde sobre seus sinais e sintomas, bem como a implementação do tratamento multidisciplinar para todas as mulheres em centros especializados.

Em minha opinião, esse foi um avanço muito grande no combate à endometriose, que ajudará muitas mulheres.

Quais são hoje os tratamentos disponíveis para a doença?

O tratamento da endometriose pode ser clínico ou cirúrgico, e na maioria das vezes são feitos de maneira integrada. Cada paciente deve ser avaliada individualmente de acordo com os seus sintomas e desejos. Não adianta darmos remédio ou apenas fazermos uma cirurgia. Temos que cuidar da mulher.

Para as mulheres que não tem desejo reprodutivo imediato, o tratamento hormonal é uma boa alternativa para lidar com a endometriose, seja usando a pílula à base de progestogênio, uma opção barata e geralmente bem tolerada pelas mulheres utilizada desde 1950 no tratamento da endometriose, seja com a inserção de um dispositivo intrauterino (DIU) hormonal, que libera hormônio por um período prolongado (5 anos), bloqueando o desenvolvimento do endométrio dentro do útero e de fora dele.

No entanto, é importante saber que as alternativas hormonais diminuem a evolução através do bloqueio estrogênico e diminuem a inflamação, mas não fazem sumir os focos, portanto não curam a doença no longo prazo. Eles atuam diminuindo temporariamente os sintomas, mas apenas enquanto os medicamentos estão sendo tomados.
Outras medicações paliativas para a dor podem ser utilizadas, como anti-inflamatórios.

Quando falamos em infertilidade por endometriose, o seu principal tratamento deve ser feito através da reprodução assistida (Fertilização in Vitro).

Já o tratamento cirúrgico deve ser feito por via minimamente invasiva, laparoscópica ou robótica, sempre buscando remoção de todos os focos de endometriose e com a preocupação de preservação dos tecidos sadios.

Nem toda endometriose tem indicação cirúrgica e cada caso deve ser analisado individualmente, mas este está indicado principalmente nas situações em que o tratamento clínico não obteve controle dos sintomas, ou após falhas no tratamento da infertilidade através de reprodução assistida. Também pode ser indicado para tratamento da infertilidade naqueles casos em que a paciente não tenha acesso ou não queira ser submetida aos tratamentos de reprodução assistida, e é obrigatório quando ela cause obstrução intestinal ou hidronefrose por compressão ou obstrução do ureter.

Além disso, a mulher teve ter um tratamento multidisciplinar, envolvendo fisioterapia, acupuntura e psicoterapias, bem como é necessário a adoção de hábitos saudáveis, como não fumar, fazer alimentação anti-inflamatória, praticar exercícios físicos regularmente, ter uma boa qualidade do sono, controlar o peso, reduzir o estresse, evitar o uso de bebidas alcoólicas e não fumar.

Vale ressaltar que fazer uma consulta com um profissional com capacidade e experiencia faz toda a diferença a qualidade de vida dessa mulher, e essa consulta não deve ser adiada.

A mulher não pode deixar que a sua vida se torne a endometriose e o sofrimento que ela causa.